desmistificando plantões 🥼

principalmente para os recém-formados, é rotina trabalhar em UPAs ou prontos-socorros por aí. mas você, leitor do amo medicina, quer saber: como tomar condutas assertivas e levar os plantões nesses locais da melhor forma? é sobre isso que você vai ler hoje. vamos lá!

em primeiro lugar, é preciso reconhecer: só de ouvir o nome “sala vermelha” muitos médicos começam a suar frio. Guimarães Rosa, exímio médico e escritor, traz, em sua obra-prima literária Grande Sertão: Veredas que “viver é perigoso”.

mas de onde vem todo esse medo? você, médico ou médica, sabe muito bem que o medo é ativado no corpo diante de uma ameaça. e essa descarga de catecolaminas faz o quê? liga o estado de luta ou fuga, é claro! no que se refere aos plantões nas UPAs e PAs você tem apenas duas opções:1) enfrentar o medo2) paralisar diante do temore todo bom profissional da saúde sabe que a melhor forma de superar o medo é enfrentando-o, certo? isso na psicologia tem até nome: terapia de exposição! praticar pode não levar à perfeição, como dizem por aí. mas certamente passar pelos perrengues das salas vermelhas traz bastante confiança. por isso, se bater o frio na barriga, bota seu jaleco ou pijama cirúrgico e vai pro campo de batalha!

agora que você superou o medo, chegou a hora de fazer o plantão render. um princípio muito usado na prática dos plantonistas mais bem-sucedidos é:→ saber focarisso realmente difere o joio do trigo na medicina - e, é claro, na rapidez do atendimento nos PAs por aí. de fato, diante de uma fila de 100 pacientes para serem atendidos e sendo você o único médico do local, é preciso focar no que mais interessa. nesse sentido, foque na regra do 80/20, desenvolvida pelo economista Pareto.

esse brilhante cientista dos números descobriu uma constante que poderia ser aplicada na vida: 20% dos esforços geram 80% dos resultados!

muito simples: você, num atendimento de urgência e emergência, não vai perguntar se a casa da vizinha da esquina do paciente é de pau-a-pique ou fazer o exame de próstata se a queixa principal dele é odinofagia! o passado passou. você não está na aula de semiologia em que os anamneses demoraram 1 hora (no mínimo). você precisa lembrar do essencial, tendo olhar focado na queixa principal do paciente.

atenda de forma direcionada e você zerará a fila do SUS (ou do convênio)... afinal, consultório de PA ou UPA não é divã de terapia (apesar de alguns pacientes acharem isso!).

ou seja, toca ficha colega!

se você pensou que nunca mais ia estudar exatas depois que entrou na faculdade de medicina, ledo engano! e não, não estou falando de bioestatística e epidemiologia… falo de Eisenhower, um general americano que inventou algo que pode fazer suas decisões nos plantões muito mais assertivas.

se você ainda não conhece, te apresento a “Matriz de Eisenhower”:

entendê-la é algo bem intuitivo, certo? separe os afazeres e o que é urgente e importante. a partir disso, tome suas decisões. você, profissional da medicina, precisa ter essa triagem grudada na parede do conforto. até porque, como um líder dentro das salas de urgência e emergência, você precisa saber o que priorizar. isso não só evita que tarefas importantes se acumulem, mas principalmente, te ajuda a não comer bola.

como sabemos, o ambiente de um plantão de emergência não é dos mais tranquilos! mas você, profissional da saúde, sabe também que o estresse e a irritação só prejudicam as coisas. seja no PS ou na UPA, você precisa guardar sua energia para o que importa: cuidar bem dos pacientes. a cada intriga, discussão ou até mesmo culpa excessiva, você desperdiça valiosas moléculas de ATP que poderiam ser usadas em prol da rapidez das suas condutas. por isso, tente ser leve, faça brincadeiras quando for momento. rir às vezes é o melhor remédio, inclusive ao paciente.

LTV, 3 letras, muito significado. LTV é uma sigla do inglês que significa Life Time Value. geralmente ele se refere a estratégias de marketing dentro das empresas. o LTV é o valor de um consumidor ao longo do tempo. imagine só: você comprou um iPhone 14 Pro Max hoje. depois de 1 ano, lançam o 15. você não resiste e passa o cartão. pronto, seu LTV acabou de aumentar. bom para a Apple, ruim para seu bolso.

brincadeiras à parte, todo médico, antes de dar um plantão, precisa pensar no seu LTV dentro da medicina. isso quer dizer que você deve ter metas de longo prazo e não se acomodar. dessa maneira, você dará mais valor ao seu tempo como plantonista, tomando as melhores decisões durante seu trabalho. nunca queira pouco. sua carreira agradece.

para terminar este artigo e aproveitando o gancho do tópico anterior, sugiro uma reflexão: para você, o plantão é um fim ou um meio?

muitos são os médicos que sacrificam toda a sua carreira, pois se acomodam com a vida de plantões. quando menos percebem, eles estão passando 48, 72 ou até 96 horas seguidas nos plantões. assim, perde-se tempo de qualidade com família, amigos, deixa-se de viver experiências ou se especializar.

é importante pensar sobre isso… para tomar decisões responsáveis é necessário ter responsabilidade consigo mesmo em primeiro lugar. uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), indicou que 45,6% dos médicos têm alto nível de burnout. lembre-se sempre de onde você quer chegar e que tempo é seu maior ativo.